Religião
Meninos são revolucionários, homens são conservadores
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O ódio cego pela religião, típico do menino rebelde, dá lugar ao reconhecimento do papel social e moral da formação religiosa na sociedade humana.
Tive ímpetos revolucionários durante minha adolescência. Muitos de nós tiveram. É uma soma de dúvidas, incertezas, percepção de situações difíceis que transcendem nossa capacidade de entendimento e influência externa, principalmente do ambiente cultural e estudantil.
A paixão pelo ideal revolucionário brota na soma das incertezas. A expectativa de mudança a qualquer preço, somada à inadequação típica do jovem alimentam a sensação de necessidade de ação iminente. O rebelde juvenil considera que não pode esperar, que é preciso agir, que não ser o agente da mudança é atuar em prol do conformismo e, claro, conta com meia dúzia de professores/ influenciadores culturais o incitando justamente a isso.
Tal ímpeto quase sempre se manifesta de modo destrutivo. O pensamento do revolucionário exige transformação, mas através da destruição das estruturas vigentes. Não há diálogo possível, ou sequer uma construção gradativa que permita a realização daquilo que ele deseja. Não. Só o que funciona é destruir o “sistema”. Derrubá-lo aos escombros para depois reconstruir.
E é isso que os torna meninos. E são meninos quando têm delírios revolucionários aos quinze, aos vinte, aos quarenta ou, com cabelos brancos, aos sessenta.
Meninos pensam que podem transformar a sociedade para melhorá-la. Homens entendem que precisam conservá-la para que não piore mais.
Homens se tornam conservadores quando ultrapassam a imaturidade juvenil, porque entendem os valores que a sociedade mantém, e passam a discernir que eles só existem graças aos pilares que, não por acaso, os revolucionários tencionam destruir.
É no momento que formam família, quando compreendem o esforço de seus próprios pais em sua criação, percebem as próprias conquistas advindas do trabalho e a necessidade de manterem a família e os bens honestamente conquistados em segurança.
O ódio cego pela religião, típico do menino rebelde, dá lugar ao reconhecimento do papel social e moral da formação religiosa na sociedade humana, percebendo por fim que tudo o que o revolucionário quer derrubar é justamente o que nos sustentou como seres civilizados e nos salvou da barbárie.
São inúmeros os casos de ex-militantes de esquerda que se tornam conservadores quando atingem a idade madura. O contrário raramente ocorre. A consolidação intelectual nos esclarece que a ação humana na sociedade é quase sempre danosa, cabendo-nos o zelo pela estrutura construída. Não passa de tolice infantil ou desajuste intelectual a esperança de que uma revolução destrutiva pudesse gerar melhora social.
Nosso caos é fruto de nossa imperfeição natural. A soma de tantas imperfeições. Não havendo portanto solução mágica que transforme a sociedade e a torne infalível.
Superar a meninice intelectual e moral nos torna capazes de identificar que somos guardiões dos valores que resistiram à destruição. Precisamos conservar as bases que nos permitiram sobreviver até aqui. Por isso somos conservadores.
O revolucionário que assim permanece mesmo após a idade da maturidade é o velhaco profissional. Aquele que se locupleta através do discurso militante. Se engancha em algum partido, diretório, sindicato ou repartição e se beneficia do discurso.
Se acomoda no estado perpétuo de militante, criando escaras morais e intelectuais insuperáveis. O discurso coletivista mascara seu propósito individual.
É, portanto, a seu modo também um conservador.
Só que o que busca conservar é a própria regalia.